O sistema público de saúde do faz-de-conta em Unaí.

(charge retirado do blog:professorandregeografia.blogspot.com)

(resolvi mudar a data dessa pastagem porque achei pertinente com o tema do óbto do garoto ofendido por escorpião)

Os governos estaduais, em geral, usam a mesma artimanha para passarem a responsabilidade da prestação dos serviços públicos de saúde para os municípios. Eles exploram a ânsia que os governos municipais têm por inaugurar obras e serviços, e assim construírem um saldo político positivo. Então estes governos estaduais , aproveitando-se desta ânsia, financiam estas obras e serviços e deixam a responsabilidade da manutenção e dos encargos com pessoal, que é o que despenderá mais recursos, e por mais tempo, nas mãos (ou nos cofres) das Prefeituras.

Porém, em Unaí, isto parece mais gritante ainda. O Governo Estadual criou a regionalização da saúde no estado, os dirigentes do município de Unaí, no desespero por notoriedade se dispuseram logo a oferecerem-se para que o Município fosse referência da microrregião do noroeste, o que foi aceito pelo Estado. Então Unaí é, hoje, referência para 13 municípios vizinhos, ou seja, é obrigado a atender a população destas cidades. Já o Município de Paracatu inteligentemente ou por sorte não ganhou o tal posto.

Algumas pessoas mais desavisadas podem achar que isso é bom, pois virão mais recursos para a saúde do Município. Porém é preciso lembrar que as outras regiões de Minas, para prestar estes serviços de saúde, contam com hospitais universitários, que têm mais de uma fonte de financiamento, contam com hospitais da FHEMIG (Fundação Hospitalar de Minas Gerais) financiados pelo Governo estaduais e contam também com hospitais filantrópicos ou santas casas, que são infinitamente mais fáceis de serem costeados por poderem ter receitas outras como: planos de saúde próprios, clientes particulares, podem contar com mais doações e outras coisas que ajudam a cobrir a déficits existentes entre o que é gasto e o que é repassado pelo SUS nos procedimentos cobertos por este sistema. Além de menos burocráticos de serem administrados.

Aqui na região não existe nem hospitais universitários, nem hospitais da FHEMIG e nem Hospitais Filantrópicos. A solução encontrada foi criar o hospital municipal que é de administração burocrática e de cara manutenção. Porém o governo de Unaí apressou-se em aceitar a verba para construir este hospital municipal, mesmo antes de ver com a sociedade a possibilidade de construção de um hospital filantrópico, onde a prefeitura poderia fazer doações para o mesmo. E o dito Terceiro Setor se encarregaria de administrar o tal hospital. Isso tudo, acredito eu, porque a construção de um hospital municipal daria mais votos. Consequência: como pode ser visto no sitio do Cadastro Nacional de estabelecimentos de saúde (CNES) o referido hospital nem equipes profissionais têm cadastrado. E, portanto tem pouquíssima produtividade.

Mas a coisa não acabou com a construção. O governo estadual, através de convênios, frequentemente manda verbas para construção de alas no hospital e o governo municipal continua aceitando. Por exemplo, tem toda uma estrutura física e maquinários de uma UTI neonatal no Hospital Municipal de Unaí há cinco anos e esta nunca funcionou.

Daí o que acontece? Acontece que o Hospital Municipal de Unai, é um hospital referencia para a microrregião. Deveria resolver todos os problemas de saúde de média complexidade desta população. E isto evidentemente não se realiza. O hospital tem apenas 40 leitos (para ter um parâmetro: o hospital de Paracatu tem bem mais do que isso e está construindo uma capacidade para mais 80 leitos) destes quarenta leitos mais da metade é usado para a obstetrícia, apenas para gravidez de risco habitual (contrario do alto risco). E como já dito não existe equipe médica para o hospital e são realizados apenas procedimentos simplórios.

Nisso acontece o faz-de-conta: O hospital recebe verbas do governo estadual através do Programa PRO_HOSP para o reaparelhamento, obras de reformas, custeio de materiais e medicamentos entre outros. Em troca o Governo Estadual exige a manutenção de taxas e índices predefinidos.

Então o hospital fica constantemente sendo maqueado e consegue manter as taxas dentro do limite, uma vez que não realiza quase nenhum procedimento, e o número de leitos é muito pequeno. Nisso a taxa de infecção hospitalar é baixa, pois são poucas pessoas internadas e poucas intervenções feitas, a rotatividade é alta, pois só os problemas simples são revolvidos, a taxa de mortalidade e pequena, pois não se atende doentes graves e por aí vai. A maioria dos pacientes é encaminhada para Brasília.

O estado finge que o problema está sendo resolvido, pois os pacientes não são encaminhados para Patos de Minas, como deveria ser. Devido a referida cidade ficar muito longe de Unaí, e Brasília estar mais perto. O Governo Municipal finge que tem um hospital que está resolvendo o problema da população. O que não é verdade, pois os serviços hospitalares no municipio são quase inexistentes. O paciente não tem seu problema resolvido mais os administradores têm boas noticias para contar.

Enquanto isso a população que não consegue ser atendida em Brasília continua enchendo o Pronto Atendimento. Não tendo seus Problemas resolvidos, como quase sempre, eles reclamam, e o Governo Municipal diz que a Saúde Pública do município é boa, o povo é que não sabe onde procurar atendimento.

É de se imaginar onde eles querem que se procure o atendimento: Em Brasília. Um ônibus cheio vai e umas dez viagens de ambulância por dia são feitas para a Capital Federal. E o governo de Minas e o Governo municipal de Unaí ainda fazem uma bela propaganda com o hotel disfarçado de Hospital Municipal de Unai.

Autor: José Antônio Alves Almeida.